segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

339 - BURRO FALANTE



        Para a comunicação entre si, os animais da mesma espécie usam gritos, mugidos, cantos e outros sons. De vez em quando pesquisadores divulgam interessantes estudos a respeito da linguagem dos elefantes, baleias, golfinhos, macacos e outros bichos.

        Mas no interior cearense, há alguns anos, um insano agricultor falava diretamente com seus animais de estimação. Conversava com o cachorro, contava segredos aos gatos, cochichava com as galinhas.

       Certo dia, em seu sítio, preparando-se para ir à cidade, o lavrador colocava os arreios e a cela em sua burra quando um velho conhecido se aproximou, observou e comentou:

       - Gostei de ver, meu amigo. Você acabou com aquela mania esquisita de falar com os animal. Num teve nenhuma prosa com a burrinha.

       - Largue de ser besta, hômi. Como é que eu vou conversar com essa burra? Ela é muda.



Colaboração: José Ferreira Lima

(imagem Google)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

338 - PORTA-RETRATO



         Minha avó Maria Amélia viveu irradiando alegria, compreensão e equilíbrio. Com treze filhos e dezenas de netos e bisnetos, a varzealegrense, com amor e serenidade, se notabilizou pela sua infinita capacidade de amar e de superar com altivez os percalços da vida.

         Na década de setenta, minha querida avó deixou a pequena Várzea Alegre e foi morar em Fortaleza. Ali, sua casa continuou bastante frequentada por todos, muitos vindos do sertão cearense para matar a saudade da sábia professora aposentada.

        Certo dia, Antônio Ulisses, um dos filhos de Maria Amélia, chegou de surpresa à capital alencarina. Ao entrar na casa e olhar para a estante da sala, o corretor de algodão reclamou:

         - Mamãe, cadê minha foto. Por que só tem retrato de minha irmã Terezinha?

         - Ah, meu filho, você vem sem avisar. Terezinha me disse que chega hoje de Várzea Alegre.


(imagem Google)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

337 - AVARENTO




        A avareza, um dos sete pecados capitais, representa o exagerado medo de perder o que possui. O ilimitado egoísmo impede o avarento de abrir mão do que é seu, mesmo que seja coisa de pequeno valor e receba algo em troca.

        No interior nordestino, certo dia,  dois vizinhos assistiam à missa dominical pelo rádio. Em dado momento, quando começaram os cantos do ofertório, um deles perguntou:

       - Cumpade, o que houve com seu rádio? Acabou as piulas?

        - Não. Fui eu que abaxei o volume. O padre já vai começar a pedir as oferta e eu num tou perparado – respondeu o rico e miserável dono do rádio.

Colaboração: José Ferreira Lima

(imagem Google)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

336 - A BELA COMADRE



        Certo dia, em um município do interior brasileiro, um agricultor seguia a cavalo para a roça, quando se deparou com a jovem mulher do compadre, sozinha, de cócoras, lavando roupas na beira do riacho.

        Mesmo conhecendo o nono mandamento da tradição católica, há muito tempo desejava aquela bela mulher. Aproveitando a rara oportunidade, se aproximou, e deu uma descarada cantada na comadre.

       Surpresa e bastante irritada com a ousadia do vizinho, a mulher reclamou:

       - Cumpade, você tá pensando o que? Sou muié de respeito. Eu devia era contar pro meu marido.

      Com a veemente recusa, o agricultou montou no seu cavalo, porém, antes de seguir para o roçado, insistiu:

     - Mas se a cumade mudar de idéia, me dê a preferença.



Colaboração: Moisés Rivaldo

(imagem Google)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

335 - O DOCE DE BETA



         Há algo precioso que não pode faltar em minha bagagem sempre que volto de Várzea Alegre. Além da saudade e de todas as lembranças que trago da minha querida terra natal, minha mala retorna à Macapá cheia de “tijolos de leite” produzidos artesanalmente pela doceira Elizabete Ferreira Pinto.

        Em sua casa na Rua do Capim, na beira do fogão à lenha, com quase oitenta anos, Beta, como conhecida, mexe o tacho até encontrar o ponto perfeito das cobiçadas barras de doce. Mãe de três filhas, a viúva de Joaquim Ota produz há quase sessenta anos os doces mais cobiçados de Várzea Alegre.

         Certa vez, eu e minha mãe fomos à residência da doceira para apanhar dez tijolos. Em lá chegando, Beta abriu a porta, nos entregou a encomenda e, com seu jeito simples e espontâneo, falou:

        - Terezinha, pra que desse tanto de tijolo? Esse teu minino come doce demais. Isso faz mal, muié.

(imagem Google)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

334 - SENSOR DE VELOCIDADE





         No fim da década de setenta, o servidor público Raimundo Luiz Sobreira de Oliveira, Mundin de Chico Luiz, decidiu viajar de Fortaleza para Várzea Alegre no veículo marca Dodge do seu pai. No carro, ao seu lado, levou a namorada Carla Meneses Oliveira. E no banco traseiro, deu carona ao irreverente agricultor Raimundo Alves de Meneses (Mundin do Sapo), tio de Carla.

         Na estrada, ansioso por chegar à querida e distante Várzea Alegre, Mundin de Chico Luiz pisou fundo no acelerador do Dodge. Após dezenas de quilômetros de excessiva velocidade, o carro foi parado por um policial rodoviário que utilizava o ainda desconhecido radar. O motorista Mundin desceu imediatamente do veículo e passou a conversar discretamente com o guarda, buscando justificar sua imprudência ao volante.

         Quando a autoridade de trânsito já aceitava a desculpa de que o excesso fora apenas naquele trecho da estrada, o outro Mundin, o do Sapo, conseguiu sair do carro, se aproximou e, com seu jeito de sertanejo autêntico, gritou:

         - Eita carreira grande, seu Guarda. Ainda bem que o senhor parou a gente. Onde tem uma sintrina* aqui perto? Tou me cagano de tanto medo que tive.


* variante cearense para sintina, que significa privada, retrete.

Colaboração: Demontiê Batista

(imagem Google)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

333 - A MOTO DE ZAQUEU





         Nos anos 80, em Várzea Alegre, no sítio Timbaúba, surgiu um viajante e ofereceu uma motocicleta usada ao agricultor e poeta Zaqueu Guedes. O veículo era de uma marca e modelo ainda pouco popular no sertão cearense, mas o vendedor propôs um bom preço e fez enorme propaganda, realçando a resistência e economia do produto.

        Finalmente convencido pelas interessantes vantagens apresentadas, o agricultor varzealegrense comprou a motocicleta marca Yamaha, modelo MZ. Já na manhã seguinte, alegre e vaidoso com a aquisição, apanhou o veículo e seguiu viagem rumo à sede do município de Várzea Alegre, onde acontecia a movimentada feira do sábado.

         Porém, antes de chegar ao centro da cidade, no Bairro Riachinho, a motocicleta estancou e não mais funcionou. Vendo o poeta Zaqueu, cansado, suado, insistindo em virar o motor da surrada motocicleta, um amigo indagou:

        - Zaqueu, que moto é essa ?

       O poeta e repentista popular, irritado e desgostoso com o negócio realizado, improvisou:

        - Hômi, você numveno. É uma MZ. Mataram Zaqueu.


Colaboração: Aldir Cunha

(imagem Google)


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

332 - DECIFRADOR DE SONHOS


         O ferreiro Francisco Basil de Oliveira se tornou conhecido em Várzea Alegre por seu inesgotável repertório de histórias engraçadas. O conhecido contador de causos também apresenta outras habilidades, como o da interpretação dos sonhos.

         Certa tarde, Chico Basil estava na sombra do oitão da Capela de São Vicente quando se aproximou um amigo e disse:

         - Eu sonhei com um gato caindo dum muro e joguei no gato, mas deu foi burro.

         O experiente ferreiro comentou:

         - certo. Gato que cai de muro é burro mesmo.

       Dias depois, em um fim de tarde, mais uma vez o amigo encontrou o ferreiro na agradável sombra da capela e perguntou:

       - Chico, ontem eu sonhei com um jumento me cumendo. Como é que eu jogo?

      Sem perder a oportunidade, o decifrador de sonhos respondeu:

         - Jogue o cu no mato, pois num serve mais pra nada...



Colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa

(imagem Google)



quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

331 - A NUMEROSA PROLE




         Na década de setenta, Jonas Morais trabalhou como cobrador da Viação Varzelegrense, do empresário Chagas Bezerra. Uma das pioneiras no transporte de passageiros entre o nordeste e o sudeste brasileiro, a empresa iniciou suas atividades em meados do século passado.

        Certa manhã um ônibus parou na cidade cearense de Farias Brito, onde entrou uma humilde senhora acompanhada de oito crianças.

        Como o ônibus já viajava completamente lotado, com vários passageiros em pé, os inquietos meninos tumultuaram ainda mais o ambiente.

       Em certo momento da viagem, observando o alvoroço provocando pelas inúmeras crianças, o cobrador Jonas advertiu:

        - Senhora, quando a gente tem tanto minino assim, a gente deixa metade em casa.

        A pobre mulher, grávida e amamentando uma das crianças no colo, respondeu:

         - Seu cobrador, foi assim que eu fiz.



Colaboração: Irapuan Costa

(imagem Google)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

330 - BONS DE GARFO



        Em um feriado prolongado da década de oitenta, os primos e amigos Antônio Ulisses e Tércio Costa viajaram juntos de Várzea Alegre para Fortaleza. No carro também foram Antônio Costa e Dirceu, filhos do corretor de algodão Antônio Ulisses.

        No município de Jaguaribe, ainda na metade do longo percurso, o engenheiro Tércio parou para o almoço em um modesto restaurante às margens da rodovia BR 116.

        Antônio Ulisses indagou por quanto o proprietário do estabelecimento alimentaria os quatro passageiros. Naquele dia de pouco movimento, aproveitando a oportunidade para ganhar uns trocados, o dono do restaurante disse que bastaria o pagamento de três refeições, pois no grupo havia duas crianças. Mesmo assim todos poderiam comer até se fartar.

        Os quatro sentaram à mesa e passaram a se servir da abundante comida. Na medida em que as tigelas esvaziavam, o dono do restaurante cuidava em trazer para os esfomeados passageiros novas guarnições de feijão, arroz, farofa e temperos diversos.

       Depois de comer bastante, Antônio Ulisses e Tércio deixaram a mesa e pediram café. Porém, para o espanto do proprietário da casa, os meninos continuaram a comer. Naquele ritmo, os apetitosos garotos raspariam as panelas e causariam prejuízo ao restaurante.

        Já cansado de tanto trazer comida, na intenção de completar com água os insaciáveis buchos dos meninos, o proprietário do estabelecimento sugeriu:

       - Vocês querem uma aguinha?

       Antônio Costa, o garoto mais velho, com a boca cheia de comida, falou:

      - Não, seu . A gente só toma água do mei pro fim. Mas pode trazer uma pimentinha pra mode nós enfezar a língua...



Colaboração: Irapuan Costa

(imagem Google)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

329 - A RENDA DO GENRO





         Certo dia, em Fortaleza, uma jovem, com apenas vinte anos, anunciou para os pais que pretendia se casar. A família se assustou com a novidade e mostrou preocupação, pois, não bastasse a pouca idade da moça, sabia-se pouco sobre o namorado.

        Preocupado com o futuro da querida filha, o sogro, na primeira oportunidade, chamou o estranho genro em um canto da sala e perguntou:

       - Perdoe a intromissão, mas você tem condições de casar? Quanto você ganha por mês?

        O noivo, mascando chiclete, respondeu:

        - Barão, é mil e quinhento.

        Um pouco aliviado, o sogro comentou:

        - Assim tá bom. Minha filha ganha mil e trezentos reais e você mil e quinhentos. A renda de vocês então é dois mil e oitocentos. Dá pra começar a vida com dignidade.

        Mal o sogro terminou de falar, o rapaz, com linguagem e ginga de malandro, consertou:

        - É Sogrão, mas eu já botei o mil e trezento dela.


Colaboração: Demontiê Batista

(imagem Google)


sábado, 12 de fevereiro de 2011

328 - O EXAME



         No filme A Grande Família, o fiscal sanitário Lineu, interpretado magistralmente por Marco Nanini, recebe o resultado de um exame que provoca sobressaltos e desencontros na vida dos personagens.

         Assistindo mais uma vez ao sucesso da Rede Globo, lembrei um fato que aconteceu comigo em 1992. Nessa época a AIDS assombrava o mundo, pois os noticiários sempre informavam que alguma figura pública sofria da doença ou morrera em razão dela.

         Aprovado no concurso para Delegado de Polícia do Estado do Amapá, saí em busca da documentação e me submeti aos exames médicos exigidos. No laboratório realizei vários testes, entre os quais o Elisa, usado para diagnóstico da infecção pelo vírus HIV.

        Dias após a coleta do sangue, quando cheguei para apanhar o exame, percebi certa frieza no comportamento da moça do laboratório. Ela mal me olhou ao entregar o envelope com o resultado, apenas pediu que eu assinasse o recebimento do laudo.

       Sentei-me em um banco próximo, respirei fundo e passei a ler o resultado do teste Elisa. Ao ver a conclusão do exame suei frio e meu coração bateu acelerado. Para minha supresa e agonia, o papel noticiava que eu sofria daquela terrível e à época implacável doença.

        Depois de alguns minutos de angústia e sem saber como proceder, retornei ao balcão do laboratório e indaguei timidamente à funcionária:

       - Moça, por favor, você poderia dizer o que significa esse resultado? Acho que a coisa feia pro meu lado. O negócio aí não reagiu e eu tou é lascado...

        Dessa vez a jovem me olhou fixamente e disse:

        - Quando diz “soro não reagente” é porque o senhor não tem a doença. Fique tranquilo.



(imagem Google)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

327 - WELCOME



        Na década de noventa fui designado para trabalhar por um mês em uma pequena cidade do interior. Era a primeira vez que cumpria minhas funções naquela distante região.

        Na chegada, mesmo depois de uma cansativa viagem, parei primeiro no fórum para me apresentar e conhecer os serventuários da justiça. De imediato, me encantou a inteligência, simpatia e beleza da jovem magistrada do lugar.

        Com a primeira e ótima impressão segui alegremente para a minha repartição. Lá também obtive uma simpática acolhida dos funcionários. Quando eu já retirava minhas últimas bagagens do carro, um dos servidores, com educação, indagou:

       - E aí, doutor? O que achou da cidade?

       Satisfeito com a recepção de todos, especialmente da bela magistrada, respondi:

       - Aqui será muito bom. Numa comarca com uma juíza tão bonita é fácil demais trabalhar.

      Imediatamente, o funcionário completou:

     - É verdade doutor. Minha mulher realmente é muito bonita...



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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

326 - LINHA FIXA



        Há alguns anos, em Várzea Alegre, sertão cearense, Marcos Ferreira Lima entrou em contato com a operadora solicitando uma linha telefônica em sua casa.

       - Qual o endereço para instalação? – indagou a telefonista.

        - É no Ceará, em Várzea Alegre, perto do presidente Castelo* – respondeu, Marco, do telefone público.

        - O senhor poderia nos informar o nome da rua e o número da casa – insistiu a funcionária da operadora.

         - Num tem erro não. É encostado em Antôi Rola. Você conhece?

        Sem entender e conseguir se localizar com as referências familiares da pacata cidade cearense, a telefonista, falando com sotaque do sul do país, retrucou:

         - Senhor Marcos, me desculpe. Não conheço nem o Ceará, quanto mais rola de num sem quem de Várzea Alegre.



*escola de Varzea Alegre.

Colaboração: Vicente Ferreira Lima Filho( Lima Discos)

(imagem Google)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

325 - ENTREVISTA DE EMPREGO



 
          O candidato a emprego busca se comportar de maneira positiva em uma entrevista. Afinal, naquele importante momento da seleção o entrevistado deve se esforçar para encantar o recrutador.

          Certo dia, por volta do meio-dia, um jovem rapaz caminhava pela rua de uma grande cidade quando viu em frente a uma loja uma placa com a cobiçada frase: temos vagas.

          Imediatamente, o rapaz ingressou na fila e foi buscar informações sobre o emprego. Ao entrar da sala de recursos humanos, o jovem, se espreguiçando e bocejando, perguntou:

          - É aqui que tem vaga de emprego?

          - E para o senhor? – perguntou a espantada servidora do RH.

          - Não, não. É pra meu irmão que ficou dormindo lá em casa. – respondeu o rapaz.


Colaboração: Zeca Barreto

(imagem Google)



domingo, 6 de fevereiro de 2011

324 - CINEMA INTINERANTE



           Por muitos anos, os irmãos Zé e Raimundo de Borgin administraram o Cine Alvorada, última sala de cinema da pequena cidade de Várzea Alegre.

        Certo dia, na década de setenta, os irmãos decidiram levar a sétima arte para o povoado de Mangabeira, localizado a cerca de vinte quilômetros de Várzea Alegre.

         No final da tarde, em uma rural, circularam no pequeno distrito de Lavras da Mangabeira, convidando os moradores para assistir a dois filmes de sucesso. Na sede do instituto São José, Raimundo improvisou uma sala de projeção, providenciando uma empanada como tela e instalando uma luz negra no ambiente.

        A primeira sessão, completamente lotada, especialmente com crianças, projetou “Tarzan, o Rei da Selva”. Foi um sucesso. Todos adoraram o filme. Após um pequeno intervalo, iniciou a segunda projeção, dessa vez com o filme “Tarzan e a Macaca Chita”.

        Quase todos os mesmo expectadores da primeira película pagaram novo ingresso e voltaram para a segunda sessão. Passados alguns minutos de projeção, uns atentos garotos estranharam e começaram a reclamar, pois as cenas do novo filme eram bem semelhantes às do anterior.

        Ao perceber o burburinho, Zé, responsável pela bilheteria, entrou na sala e perguntou:

         - Raimundo, o que é isso? Você tá passando o mesmo filme?

          - É, Zé. Assis Felix só botou um filme na rural. Aí só fiz mudar o título e inverter os rolos.


Colaboração: Vicente Lima Filho

(imagem Google)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

323 - MEU QUERIDO


         Os varzealegrenses Júlio Bastos e Maurício Bezerra construíram uma amizade de muitos anos e que dura até hoje. A inabalável relação se fortaleceu na década de oitenta, quando ingressaram como menores aprendizes no quadro de servidores do Banco do Brasil.

         Os dois, ainda bem jovens, por conta dos seus destacados desempenhos escolares, conseguiram o concorrido estágio. Logo depois, por meio de concurso, passaram a fazer parte do quadro permanente do banco.

         Na época, os dois amigos estavam sempre juntos nos eventos festivos de Várzea Alegre. Júlio, mais bunitin, logo arrumava uma namorada. Porém, como Júlio perdia o controle e exagerava na bebida, a jovem, no final da festa, passava a namorar o esperto Maurício.

         Depois de um animado forró na noite anterior no Recreio Social, Júlio acordou ressaqueado pela manhã e saiu para encontrar a namorada que arrumara na festa. Contudo, mais uma vez soube que a garota terminara a noite com Maurício. Chateado, Júlio buscou o amigo para tomar satisfação:

        - Mas, Mauricin, você tomou de novo minha namorada?

        O inteligente e simpático Maurício, com sua conhecida gagueira e engolindo alguns fonemas, justificou:

        - Meu querido, num fique preocupado. Era ruim se fosse com outra pessoa. Mas nós somos amigos e irmãos, Julin.



Colaboração: Julio Bastos

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

322 - PÃO DORMIDO


 
        O pão guarnece a mesa dos homens há milhares de anos. Até hoje, pessoas de todas as classes sociais se fartam do tradicional e simbólico alimento.

        Na padaria de Senhor, em Várzea Alegre, os pães que sobram do dia anterior são vendidos a pessoas carentes por um preço bem menor que o normal.

       Certo dia, uma humilde senhora chegou à padaria em busca desses pães mais baratos:

       - Tem pão de ontem?

      Gean, filho do proprietário, que à época trabalhava na panificadora, respondeu:

       - Não senhora, infelizmente não tem.

       Mal Gean finalizou a resposta, a pobre mulher emendou com uma inesperada pergunta:

       - Mas vão fazer?

 
Colaboração: Gean Claude Holanda

(imagem Google)



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

321 - CACHO DE PÃO



         Na metade do século passado, a única padaria existente em Várzea Alegre pertencia ao comerciante e político José Alves de Lima (Zé de Ginu) e era tocada por seu cunhado Chico Mundeiro.

         Localizada na Rua Doutor Leandro, a pequena panificadora era passagem obrigatória para muitos moradores da pacata cidade do sertão cearense. Todo dia, aproveitando a agradável e refrescante sombra do final da tarde, Chico Mundeiro costumava sentar em frente à padaria para acompanhar a ida e vinda das pessoas.

          Certa ocasião, o padeiro descansava tranquilamente sentado em uma cadeira na calçada, observando o movimento, quando surgiu na padaria um pequeno cliente, dizendo:

         - Seu Chico, pai mandou comprar três pão.

        Incomodado com a inoportuna chegada do freguês, Chico Mundeiro, de temperamento fechado, resmungou:

         - Minino, por que seu pai num compra banana que tem mais sustança?



*variante cearense para sustância, brasileirismo de substância, que segundo o dicionário online de português significa força, vigor, robustez...

(imagem Google)