quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

712 - PONTO DE HIDRATAÇÃO






Em algumas cidades, nas estações mais quentes, a organização das corridas de rua, além da distribuição de água aos competidores a cada dois ou três quilômetros,  mantém portais com pequenos e finos chuveiros para molhar e refrescar os atletas. 


Há muito anos, na semana em que se comemora o aniversário de sua emancipação, no início do mês de outubro, o Município de Várzea Alegre promove corridas a pé, de bicicleta e de jumento. Grande parte da população vai às ruas acompanhar e incentivar os competidores. 


Numa dessas competições, no início da década de 1970, buscando diminuir o forte calor daquela manhã, um rapaz que assistia à corrida na Rua dos Perus derramou um balde de água sobre os poucos atletas retardatários que passavam trotando sobre os paralelepípedos da tradicional via.


O agricultor Zaqueu Guedes, um dos participantes daquele ano, bastante cansado e suado, assustou-se com o inesperado banho e reclamou:


- Hômi, eu tou cum coipo quente. Num jogue água neu não. Você quer me estoporar*?



* estoporar no interior cearense também significa provocar mau súbito, ser acometido de um mau não esperado, sentir-se mau.

Colaboração: José Soares da Silva (Zé de Corina)

(imagem Google)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

711 - ROLO DE FUMO





Na segunda metade do século passado, em um final de tarde de domingo, um agricultor de Várzea Alegre foi visitar o amigo , um vizinho com quem gostava de conversar e pitar uns cigarros de fumo. Os dois se encontraram, sentaram em um velho banco de madeira e passaram a prosear em frente à casa.

Logo no início da conversa, o visitante observou o amigo preparando um cigarro de fumo e pediu:

- Cumpade Zé, me empresta o fumo.  Saí apressado e esqueci o meu Só Quero Este* em casa, em cima da mesa...

Já cortando o fumo recebido, continuou:

- Me dê o teu papel aí, . O meu ficou em cima da mesa...

Passando a língua no papel para fechar o cigarro de fumo, o visitante prosseguiu:
 
- Cumpade Zé, me empresta aí teu isquêro também.  O meu dexei em riba da mesa...

Já incomodado com o abuso do vizinho, Zé propôs:

- Na próxima vez n’era milhó você trazê a mesa?


* marca de fumo bastante consumida no centro-sul cearense

Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

(imagem Google)

domingo, 27 de janeiro de 2013

710 - TANAJURA




         Em que pesem as influências de outras culturas, como a que leva mulheres brasileiras a turbinar os seios imitando as americanas, a preferência nacional continua apontando firmemente para as fêmeas de traseiro avantajado.

         Essa fascinação estética exerce poder sobre a música, a moda, o cinena, e repercutiu até mesmo na grandiosa obra do inesquecível Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “A bunda, que engraçada”. 

         Refletindo sobre essa atração nacional pelo derriére, lembrei que em Várzea Alegre a caça pelos traseiros grandes existe há muito tempo. Desde menino, no sertão cearense, no início do período de chuvas, buscando aquelas voadoras e bundudas formigas, para depois torrar em uma frigideira o seu oleoso traseiro, cantávamos, inocentemente:

- “Cai, cai tanajura*. Tua mãe na rapadura e teu pai na criatura...”


*TANAJURA é uma formiga alada, do sexo feminino, da família das saúvas.

(imagem Google)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

709 - O SOGRO




Em uma manhã de sábado, na década de sessenta, dentro de um bar do Mercado Velho de Várzea Alegre, um jovem rapaz se encontrou com o pai de uma moça com quem pretendia namorar. Os dois se encostaram ao balcão do estabelecimento e por algumas horas beberam bastante e conversaram sobre diversos assuntos.

Em determinado momento da prosa, o rapaz, já com a língua solta pela cachaça, propôs ao pretenso sogro:

- O sinhô deixa eu namorar com sua fia?

- Deixo nada, rapaz. Pra namorar com fia minha tem que lavar o cu em sete água. Eu lá quero fia minha namorano cum cachaceiro.

O jovem tomou mais uma dose do aguardente, se encheu de coragem e retrucou:

- Seno assim o sinhô também é cachaceiro. Hoje tumou mais fubuia*  que eu...

Com as pernas bambas e gesticulando com o copo de cachaça na mão, o  velho falou:

- É devera, sou cachaceiro mermo. Mas num sou eu que quero namorá minha fia...


* Referência a coisas ou pessoas de baixa qualidade. No centro-sul cearense também tomou o significado de cachaça de qualidade discutível.

(imagem Google)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

708 - ORAÇÃO AOS MORTOS (Pedra de Clarianã há dois anos)



         Fernando de Zé de Zacarias trata-se de um dos muitos cearenses que migraram em busca de novos horizontes pelo Brasil afora. Nascido em Várzea Alegre, o veterinário, político e perito, construiu sua vida profissional no novo e progressista Estado do Tocantins.

        Bastou um rápido e animado encontro de fim de ano em nossa cidade natal, para o simpático amigo de infância nos brindar com várias e interessantes histórias.

       Fernando contou que, em um dia de finados, no fim da década de 90, sua querida esposa Verônica parou em frente a uma agência bancária de Tocantinópolis, ajoelhou-se, e, de mãos postas, começou a rezar.

       Um homem que passava, estranhou a cena e alertou:

        - Senhora, aí não é o cemitério. É um banco.

       - Eu sei senhor, eu sei que é. Mas é porque meu marido tá enterrado até o pescoço aí dentro desse Banco - respondeu a dedicada esposa do à época endividado mas sempre bem humorado varzealegrense.


Colaboração: Fernando de Zé de Zacarias

(imagem Google)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

707 - O MILAGRE DO VENDEDOR




Anos atrás, um visitante recém-chegado ao Juazeiro do Norte passou a conhecer alguns dos pontos turísticos da progressista cidade cearense.

         No primeiro dia, o turista subiu a colina do Horto e conheceu a portentosa estátua do Padre Cícero. Em seguida, rezou no Santuário do Coração de Jesus, na Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores e na Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

O forasteiro Iniciou o segundo dia passando pelo estádio Mauro Sampaio, o Romeirão, palco dos jogos de futebol do Icasa.  No fim da tarde, após caminhar pelo movimentado comércio da Rua São Pedro, parou para descansar em um dos bancos da aprazível Praça Padre Cícero, no centro da cidade. Nesse momento, um vendedor ambulante se aproximou e foi logo dizendo:

- O sinhô daqui não, ? Faz tempo que nessa terra abençoada? Quando eu cheguei aqui no juazeiro eu num andava, num falava, num tinha nem dente...

O impressionado visitante concluiu:

- Foi milagre de padre Cícero...

- Não, não. Meu padin Pade Ciço num tem nada a cum isso não. -

- Mas como não tem se você passou a andar e a falar só aqui no Juazeiro? – indagou o turista.

Imediatamente o vendedor completou:

- É qu’eu nasci aqui...

Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)
(imagem Google)