A Casa São Raimundo, estabelecimento do ramo de secos e
molhados, situada no centro de Várzea Alegre, sertão cearense, completa, neste
mês de abril de 2016, setenta anos de funcionamento ininterrupto. Em 1946, foi
adquirida pelo comerciante e agricultor Raimundo Cavalcante, popularmente conhecido
por Raimundo Silvino.
Em meados do século passado, nas tratativas para compra da budega, houve um pequeno entrave que quase impediu a
concretização do negócio. Mário Cassundé, proprietário, condicionou a venda do
ponto comercial à inclusão de uma grande quantidade de fumo em rolos, produzido
no sítio Monte Alegre, município vizinho de Farias Brito.
Com a exigência, Raimundo Silvino pensou em desistir, pois
suas economias não eram suficientes sequer para comprar a budega, quanto mais com os rolos de fumo incluídos pelo vendedor, o
que dobraria a quantia necessária para o negócio, dez contos de reis.
Mesmo assim, acompanhado de seu filho primogênito Luiz
Cavalcante, de apenas 10 anos, Raimundo Silvino visitou o depósito repleto de
rolos de fumo, localizado no bairro Betânia, na pequena Várzea Alegre. Na
ocasião, ao entrar e demorar alguns minutos no recinto, o menino Luiz se
embriagou com o forte cheiro exalado pelo fumo.
Mário Cassundé insistiu na venda da budega casada com os rolos de fumo, contudo propôs que Raimundo quitasse
inicialmente apenas o valor do ponto comercial, facilitando e parcelando o
pagamento da quantia relativa ao fumo:
- Raimundo, você é um homem trabalhador e com crédito. O
fumo você me paga na maciota...
Homem corajoso e empreendedor, Raimundo Silvino aceitou as
condições e o negócio se concretizou. Em uma sorte comum àqueles que ousam,
logo após a compra, o fumo melhorou substancialmente de preço no mercado,
permitindo ao novo dono da budega
pagar sua dívida com Mario Cassundé bem mais fácil e rapidamente do que
esperava.
Atualmente, após 70 anos da compra, Luiz Cavalcante(Silvino),
com 80 anos de idade, cheio de energia e disposição, continua a atividade
iniciada pelo pai e se orgulha de contar essa história, da qual foi testemunha
ainda criança.
Fosse um estudioso, um escritor, o experiente Luiz Silvino
poderia lançar um livro de autoajuda para os novos comerciantes e empreendedores,
certamente um best-seller, que, entre
outras lições adquiridas em várias décadas de balcão, lembraria que não devemos
nos apavorar, nem desanimar, quando o
fumo entrar no negócio.
(imagem
Google)